A Rifa do Cavalo Morto


Havia numas terras lá para os lados de Minas, um sitiante que enfrentava sérios problemas financeiros. Assim, quase sem nada para comer, disse a sua mulher:
- A solução é nóis vendê o Ventania. Vou inté o sítio do cumpadi Glacindo oferecê nosso cavalo.
O caboclo, então, com muito carinho e com água nos olhos, encilhou o Ventania, montou e partiu a todo o galope para o sítio de seu compadre.
O dia já se ia quando os compadres conseguiram acertar um preço para o Ventania: 200 contos. Ficou combinado que Glacindo buscaria o cavalo, logo que arrumasse novos arreios, o que não passaria de dois dias.
Dito e feito. Passado dois dias, Glacindo, na carona de um viajante motorizado, desce na porta do compadre:
- Conformes o combinado vim buscá o Ventania.
- Cumpadi, ocê me discurpa, mas o Ventania morreu.
- Morreu?
- Morreu.
- Bão, sendo assim, intão, ocê me devorve o dinheiro.
- Apois cumpadi, tava necessitado e gastei tudo.
- Intão cumpadi, vou levar o cavalo.

O caboclo ficou todo atrapalhado e perguntou:
- Mas o que ocê vai fazê com um cavalo morto?
- Vou rifá.
- O cavalo morto?! Quem vai querê?!
- Ué! É só eu num falá que ele morreu!

“Isso não pode dar bom resultado”, pensou o caboclo, mas ficou quieto.
E foi que o compadre Glacindo levou o Ventania para o sítio.
Passado um mês, os dois se encontraram e o caboclo que era dono do cavalo pergunta:
- Ô cumpadi, e o Ventania?!
- Rifei. Vendi 400 biete a 2 conto cada. Consegui 798 conto.
- Eita! E ninguém reclamou?
- Só o homi que ganhô.
- E o que ocê feiz?!
- Ora, devorvi os 2 contos pra ele!

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